A região do Languedoc, no sul da França, se estende da Provence até os Pirineus e faz divisa com a Espanha. A paisagem rústica, os pequenos vilarejos, a gastronomia e os vinhos tornam essa região encantadora. Em fevereiro (pouco antes da explosão do Covid-19), depois de ter participado da Wine Paris, passei alguns dias nessa região belíssima, de inverno mais ameno, visitando alguns produtores.
Durante uma masterclass sobre Vinhos do Languedoc, que assisti na Wine Paris, recebi a informação de que nessa região, 29% dos vinhedos são orgânicos, o que representa a maior área de orgânicos da França e 6% da área mundial de vinhedos cultivados dessa forma.
São cultivadas as uvas brancas Roussane, Marsanne, Grenache Blanc e Rolle (Vermentino) e as tintas Grenache, Carignan, Cinsault, Mourvèdre e Syrah, entre outras variedades.
Saint-Guilhem-le-Désert, um dos mais charmosos vilarejos do Languedoc
Muitos produtores têm feito um trabalho incrível no Languedoc, e os vinhos dessa região têm conquistado cada vez mais fãs no mundo todo pela qualidade e elegância. Selecionei três produtores para compartilhar com vocês.
Variedades ancestrais
Patricia Boyer-Domergue passou de dona de casa e mãe a produtora de vinhos no fim dos anos 1980, graduando-se em enologia e criando o Clos Centeilles, na denominação Minervois, com um diferencial: recuperar variedades ancestrais. A primeira safra foi em 1990 e hoje, nos 12 hectares de vinhedos, estão plantadas 23 variedades diferentes de uva. Além de variedades que nunca tinha ouvido falar, como Araignan Blanc e Picpoul Noir, há outras mais conhecidas, como Carignan e Cinsault.
Desde 2016, Patricia conta com a ajuda da vibrante Cécile, filha do seu segundo casamento. Conheci as duas na Wine Paris e combinamos a visita à vinícola.
Alguns dos vinhedos são muito antigos, como o que abre este post, com vinhas de 110 anos de idade. Deste vinhedo é produzido o delicioso Carignanissime de Centeilles. Provei muitos vinhos interessantes e um dos meus favoritos foi o Capitelle de Centeilles, feito com Cinsault de vinhedos de 60 anos, considerado o “Pinot Noir do Sul”.
Vinhedos muito antigos e recuperação de variedades ancestrais
Do Mosel, na Alemanha, para o Languedoc
Florian Busch (de amarelo na foto), filho do produtor alemão biodinâmico Clemens Busch (veja o post Rieslings do Mosel) estudou enologia na Alemanha, trabalhou um tempo com o pai e passou alguns anos na Nova Zelândia, antes de escolher o Languedoc para viver. Lá, trabalhou durante cinco anos no Domaine d’Aupillhac (veja abaixo), chegando a maître des chais (chefe da adega), e conheceu sua companheira, Paola Ponsich (segunda e terceira fotos). Em 2018, os dois partiram para um projeto próprio, criando o Domaine Flo Busch, na denominação Terrasses du Larzac, adotando o sistema biodinâmico de produção.
Imagens da primeira colheita do Domaine Flo Busch, de produção biodinâmica
Nos 5 hectares são cultivadas Carignan, Grenache Blanc e Noir, Syrah e Rolle (Vermentino), além de plantas medicinais. Paola desenvolve uma linha de produtos à base de plantas mediterrâneas, como chás e óleos essenciais, chamada “Fleurs de Garrigue”. Os vinhos do Domaine Flo, ainda sem rótulo definitivo, são deliciosos e muito promissores.
A elegância da Carignan
No Domaine d’Aupilhac, também na denominação Terrasses du Larzac, fomos recebidos por Désirée Fadat, natural de Valência, Espanha. Seu marido, Sylvain Fadat, havia passado há poucas semanas por um transplante do coração e se recuperava em Montpellier. Acompanhada de seus dois cães (um deles de caça, que sumiu da nossa visão rapidamente numa corrida desenfreada pelos vinhedos), Désirée mostrou algumas parcelas da propriedade de 27 hectares, divididas entre vinhedos (25 ha), oliveiras e trufas, onde adotam o sistema biodinâmico.
Désirée Fadat com seu cão caçador de trufas
De família de viticultores, Sylvain Fadat começou seu projeto em 1998. Aos poucos, foi ampliando os vinhedos, que hoje estão divididos em duas parcelas: Les Terrasses d’Aupilhac, onde estão plantadas Carignan e Mourvèdre, e L’Amphithéâtre des Cocalière, a 35o metros de altitude, onde estão as variedades brancas e a Syrah. A assinatura do domaine é a Carignan, a grande uva do sul da França, como comentou Désirée. Antigamente, esta uva era predominante no Languedoc, mas foi ofuscada pela Syrah (do Rhône). De alguns anos para cá, passou a ser muito valorizada, principalmente quando trabalhada por bons viticultores.
Achei muito legal que na loja do Domaine d’Aupilhac tem um cantinho para os vinhos dos amigos deles – “Le Vin de Notre Amis” –, onde encontrei vinhos do Clemens Busch.
Os produtores aqui mencionados não estão no Brasil, mas se você encontrar vinhos do Languedoc, prove e compartilhe comigo suas opiniões.
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