Principal ilha do Mediterrâneo, a Sicília é separada da Itália pelo estreito de Messina, de apenas 3 km de extensão. De forma triangular – a ilha tinha na antiguidade o nome de Trinaclia –, a Sicília é hoje bastante conhecida pelos seus ótimos vinhos, pelo vulcão Etna – um dos mais ativos do mundo –, pelos templos romanos e por suas cidades históricas, como Taormina e Marsala.
As evidências arqueológicas da presença do homem na ilha datam de 12 mil anos antes de Cristo; no ano 750 depois de Cristo havia colônias fenícias e gregas. Enquanto as oliveiras foram levadas para a Sicília pelos fenícios, as uvas foram levadas pelos gregos, que também cultivavam oliveiras. Os árabes chegaram à Sicília em 827, na costa oeste da ilha e fundaram a cidade de Marsala, em árabe Mars-Allah, ou Porto de Deus, e trouxeram com eles a uva Zibibbo, na verdade Moscatel de Alexandria, hoje cultivada também na Ilha de Pantelleria, matéria-prima dos melhores vinhos doces da Itália.
A Sicília tem uma ampla gama de uvas autóctones, ou seja, originais da ilha, com as quais são elaborados vinhos de grande personalidade e caráter único. A variedade emblemática da Sicília é a Nero d’Ávola, uva tinta de cor intensa, acidez moderada, com grande quantidade de taninos e deliciosos aromas de ameixa e chocolate, originando vinhos encorpados e com bom potencial de envelhecimento. Cultivada nas províncias de Siracusa, Ragusa, Caltanisseta, Agrigento e Catania, ou seja, praticamente em toda a ilha, a Nero d’Avola no passado era usada em mesclas com outras uvas, para dar ao vinho mais cor, mas hoje ela é estrela de primeira grandeza e a principal uva tinta da Sicília.
Outra uva autóctone dessa região, que faz muito sucesso em todo o mundo, é a Nerello Mascalese, uva de maturação tardia, com elevada acidez, taninos delicados e que dá origem a vinhos com pouca cor, álcool elevado e deliciosos aromas de framboesa. Além dessas duas citadas, outras uvas nativas também são usadas na Sicília, entre elas a Frappato, a Nerello Cappucio e as brancas Inzolia, Grillo e Catarrato. Um destaque especial para a uva Moscato, que na região de Noto, no sudeste da ilha, atinge seu máximo potencial de qualidade, se igualando aos melhores vinhos da mesma uva produzidos na Ilha de Pantelleria.
As uvas francesas na Sicília
Como aconteceu em diversas regiões da Itália, como a Toscana, a Sicília não escapou da invasão das uvas francesas, que encontraram na ensolarada e seca ilha um local mais que adequado para seu cultivo. Os vinhos dessas uvas são muito valorizados e cultuados em todo o mundo e não seria exagero afirmar que, de certa forma, ofuscaram e continuam ofuscando as uvas originais italianas. As francesas de destaque são Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Chardonnay, especialmente os produzidos em Contessa Entelina, no oeste da Sicília.
Entre os melhores produtores da Sicília, cujos vinhos podem ser encontrados no Brasil (as importadoras estão entre parêntesis), destacam-se:
• Contessa Entelina (World Wine)
• Tasca da Almerita (Mistral)
• Cantina Cellaro (Casa Flora)
• Gulfi (Decanter)
• Marco de Bartoli (Decanter)
• Morganti (Ravin)
• Occhipinti (Winebrands)
• Feudo Maccari (Grand Cru)
• Le Vigne di Eli (Vinci)
• Tenuta delle Terre Nere (Mistral)
• Cusumano (Inovini) e Planeta (Interfood).
Descubra os ótimos vinhos da Sicília e surpreenda-se. Melhor ainda se forem degustados in loco, acompanhando a deliciosa gastronomia da ilha, baseada em frutos do mar, polvos, peixes azuis e porcos pretos. De quebra, ainda temos o inigualável limão siciliano – e seu imperdível licor limoncello – e os melhores tomates do planeta.
Por fim, não se assuste com a mensagem de boas-vindas no aeroporto de Palermo – “Bem-vindo à terra de Don Corleone” – é só uma lembrança ao filme O Poderoso Chefão, que foi em grande parte filmado na Sicília.Arthur Azevedo é Presidente da Associação Brasileira de Sommeliers-SP, Consultor e Editor do website Artwine, jornalista e palestrante
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