As uvas que são identificadas com um país, ou com uma de suas regiões, são chamadas de emblemáticas, o que não quer dizer necessariamente que estão na composição de seus melhores vinhos. Trata-se de um termo criado pelo Novo Mundo do vinho, que vêm se estendendo a países (particularmente a regiões) do velho continente. Alguns exemplos são a uva Baga, na Bairrada, Portugal; a Nebbiolo, no Piemonte, Itália; a Pinot Noir, da Borgonha, França. A seguir, vou falar sobre as uvas que dão o emblema ou a identidade a países como Argentina, Chile, Uruguai, EUA, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul.
Malbec: na Argentina, é considerada a ‘Gardel das uvas’. De modo geral, lá são produzidos vinhos (varietais ou cortes) de melhor qualidade do que na França – na região de Cahors –, que é seu lugar de origem. Cor linda, brilhante, profunda, escura, quase negra, e um nariz complexo, maravilhoso, com o típico aroma doce das frutas negras; alguns vinhos apresentam aromas de flores vermelhas e violetas. Há também uma variedade branca que dá identidade à Argentina que é a Torrontés. Cada vez mais se percebe o grande potencial dessa uva, que resulta em produtos de tipicidade adequada. Aromas e sensações gustativas com notas florais, herbáceas e minerais fazem desses brancos uma viagem refrescante.
Carménère: uva emblemática do Chile é procedente de Bordeaux (França). Até 1994, era consumida e explorada pelos chilenos como Merlot (‘Merlot chilena’). A visita do francês Jean Michel Boursiquot, naquele ano, provocou uma revolução. Acreditava-se que, com a praga da filoxera – um fungo que ataca as raízes da videira e que dizimou os vinhedos europeus na metade do século 19 –, essa variedade tinha desaparecido do planeta. A Carménère produz vinhos que, quando bem feitos, mostram personalidade única, de intensa e bonita cor, com acidez baixa, boa concentração, corpo e taninos potentes, às vezes rústicos. Quando amadurecidos corretamente e bem trabalhados no carvalho, esses vinhos se mostram macios, redondos, quase doces.
Tannat: esta uva tinta oriunda do Sudoeste da França (região de Madiran) é que dá identidade vinícola ao Uruguai. Produz vinhos em que a qualidade e tipicidade estão sempre presentes. O nome Tannat se deve à sua importante quantidade de taninos, que, além de propiciar agradáveis sensações gustativas, oferecem, quando maduros, um aporte considerável de antioxidantes, o que é um aspecto positivo do ponto de vista da saúde, principalmente cardiovascular.
Zinfandel: uva–emblema dos Estados Unidos, é a rainha da Califórnia, a mais plantada naquela região. De origem controversa, parece que é um clone da uva Primitivo, típica da Puglia, no ‘calcanhar’ da Itália. Em climas frios e produtividade pequena, a “Zin” é capaz de produzir excelentes vinhos, de bom corpo e aroma de frutas vermelhas (quase geleia) quando jovens. À medida que envelhecem (potencial de guarda de quatro a oito anos), adquirem complexidade e sabores de especiarias.
Syrah: a identidade vinícola da Austrália está nesta uva tinta, conhecida por lá como Shiraz. O Shiraz clássico é um vinho muito escuro, denso; ao nariz, se mostra mais frutado (frutas negras) e com mais chocolate que os do Rhône, sua orgem. Especiarias, pimenta negra, frutas em compota, baunilha (carvalho americano), taninos potentes, mas doces, fazem parte de seu amplo leque de sabores. Prontos mais cedo para serem degustados, aguentam, e bem o tempo, com guarda de 10 a 15 anos. Atualmente, pode-se dizer que existe na Austrália um estilo definido desse tipo de vinho de acordo com as regiões de onde emerge.
Sauvignon Blanc: esta uva branca, de origem francesa, foi a que colocou a Nova Zelândia no mapa dos vinhos finos do planeta. Seduzem pelo meio de boca e final impressionantes. Outro emblema se dá com os tintos à base de Pinot Noir, muitas vezes, fenomenais!
Pinotage: é a uva emblemática da África do Sul e resulta do cruzamento de Pinot Noir com a Cinsault (erroneamente chamada de Hermitage). Bastante versátil, a Pinotage produz vinhos de estilos diversos. Alguns produtores são capazes de oferecer exemplares muito interessantes, com aromas e sabores de frutas maduras (ameixas pretas) e toques um pouco doces, com taninos ricos e macios. Como a Carménère, é do tipo “ame-a ou deixe-a”.
Gerson Lopes é médico mineiro com atuação em sexologia e acredita que a vida é o melhor afrodisíaco. Criador do site Vinho e Sexualidade
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