Mesa Completa - Por Solange Souza

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    Colunistas • 25 de agosto de 2016

    Sonhos de Clarinha

    Inspirada no livro Menino de Engenho, do paraibano José Lins do Rego, esta sobremesa é um sucesso! – Chef Carlos Ribeiro

    Tudo começou em 1972, quando eu estava no segundo ano ginasial (era assim que se chamava). No programa de língua portuguesa estavam as grandes leituras e daquela vez seria Menino de Engenho, do nosso maior escritor paraibano José Lins do Rego. Estudava numa escola pública muito boa, cuja diretora, Dona Alzenira Paletó dos Anjos, era muito animada. O Sesquicentenário, que existe até hoje, foi o melhor colégio que estudei. Naquela época, os colégios estaduais eram bem competitivos: para conseguir uma vaga, tinha de fazer um prova, tipo vestibular, chamada exame de admissão. E muita gente ficava de fora. Nossa professora, Dona Ceci, mais empolgada, organizou uma excursão maravilhosa até o Engenho do Corredor, onde se passou a história do Menino de Engenho. Foi um dia para não esquecer jamais: pegamos um ônibus, com todos os colegas da sala, e lá fomos nós conhecer o local. Banho de rio, que eu adoro, conhecemos toda a casa, a cozinha (claro, já pensava nisso) e até uma das cozinheira da casa, Dona Zefa, que fazia parte da criadagem. A avó de Zefa era cozinheira quando o menino Carlinhos viveu sua história do Menino de Engenho.

    No meu oficio de cozinheiro, sempre usei a literatura para minha inspiração nos menus do Na Cozinha e num desses homenageamos José Lins do Rego, com comida de engenho. Fizemos carne de porco com feijão verde, mas o sucesso ficou para a simplicidade dos Sonhos de Clarinha, que nada mais são do que as aparas dos pastéis que fazemos aqui. Mas como chegamos nessa sobremesa? Lendo um dos capítulos do Menino de Engenho, me deparo com algo assim: “Carlinhos, aos quatro anos, estava em casa quando seu pai assassina sua mãe com um tiro. Seu Tio Juca vai buscá-lo para ir morar com seu avô materno em seu engenho, chamado Santa Rosa. Chegando lá, ao ter contato com o campo, fica encantado. Logo que chega, recebe cuidados carinhosos de sua tia Maria que o mimava com guloseimas, entre elas pastéis de carne e com as aparas que sobravam ela as fritava e polvilhava com açúcar e canela […] Apaixona-se por sua prima Maria Clara, quando ela vem passar as férias no engenho, e tem com ela seu primeiro beijo”. Daí pensei, que maravilha foi esta paixão. E adotamos o nosso sonho de clarinha do mesmo jeito que a tia Maria fazia: acrescentamos melaço de cana, num potinho à parte, às vezes doce de leite ou chocolate. Esta sobremesa entra somente no menu executivo, mas pelo menos duas vezes por semana temos que ter, pois os clientes nos pedem em recados pelo nosso site ou diretamente aos atendentes. Sonhos de Clarinha, singela como Clarinha e como o primeiro beijo de Carlinhos e Clarinha.

    Dedico esta coluna à minha colega de escola, Terezinha Mieko Adachi, que também foi nesse passeio e com quem falo até hoje

    Sonhos de Clarinha

    Ingredientes

    • 300 g de massa de pastel
    • 150 g de açúcar
    • 50 g de canela em pó
    • óleo suficiente para fritar

    1. Corte a massa em formatos de mini triângulos, para aproveitar melhor. Reserve.
    2. Numa panela pequena, mas funda, aqueça o óleo e aos poucos vá colocando os pedacinhos da massa de pastel; abaixe o fogo para não queimar.
    3. Com uma escumadeira, vá retirando as partes da massinha que estiverem douradas e colocando num prato com toalha de papel para sair um pouco do óleo da fritura. Repita a fritura até acabar a massa.
    4. Mude as massinhas fritas de prato e polvilhe com canela e açúcar. Depois, viva também esse sonho de Clarinha.

    carlosribeiro

    Na Cozinha Restaurante e Escola de Culinária
    Chef Carlos Ribeiro

    Rua Haddock Lobo, 955 – Jardins
    Telefones: (11) 3063-5377 e 3063-5374

     


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