O que fazer quando degustamos uma garrafa regular de vinho (750 ml) e sobra quase metade? Ou quando a proposta é seguir a máxima “vinho e saúde”, que preconiza o consumo diário de no máximo duas taças por pessoa, acompanhado de comida? Ou com a bebida que sobra nas garrafas depois de uma festa? Antes de responder a essas questões, gostaria de levantar alguns aspectos relacionados ao assunto.
Toda vez que abro uma garrafa, a exposição do vinho ao oxigênio é maior (mesmo quando fechada, há troca de oxigênio por meio da rolha). Quanto mais tempo a garrafa ficar aberta e menos vinho ela tiver (menos vinho promove maior superfície de contato), mais rápida será sua evolução e maior o risco de a bebida ser adulterada. Em contato com o oxigênio, um potencial inimigo, o álcool (etanol) do vinho poderá ser oxidado, produzindo ácido acético (vinagre). Entretanto, sabemos que, quando se trata de tintos jovens encorpados (e raros brancos excepcionais), esse mesmo contato pode ser benéfico, por alguns bons minutos ou horas. Consegue-se isso decantando o vinho, colocando- o para “respirar”. Ao ser colocado em um decanter, o vinho perde um pouco de sua agressividade, ficando mais macio – como se saísse de um estado de juventude para a maturidade.
O oxigênio é um potencial inimigo do vinho, mas pode ser benéfico para deixar a bebida “respirar” antes de ser servida
Outra consideração deve ser feita com relação à temperatura em que esse vinho vai estar. Quanto mais alta for, mais rápida a sua evolução e, conseqüentemente, maior o risco de deterioração. Portanto, guarde a garrafa com a sobra em ambiente refrigerado, adegas climatizadas ou geladeiras – pode ser de pé, já que não há mais razão de deixá-la deitada, na parte baixa do refrigerador. O vinho contido numa garrafa que foi aberta, se bem arrolhado (“barrando” a entrada de ar) e guardado em ambiente frio (evolução mais lenta) pode ser degustado nos dias seguintes – idealmente, em até seis dias. Pode perder um pouco de seu frescor, sem perder a capacidade, entretanto, de lhe oferecer prazer. No caso de vinhos mais simples, que geralmente são os escolhidos para uma festa, talvez seja melhor perder as sobras ou usá-las rapidamente na cozinha.
Existem alguns acessórios capazes de ajudar a preservar o vinho nessas situações. Um deles, o mais fácil de ser encontrado nas lojas especializadas, é o vacu vin ou wine vac. Trata-se de uma espécie de rolha-válvula de borracha que extrai o oxigênio que está na garrafa e impede a entrada de mais ar. Outra opção é o uso de gás inerte (sem odor) em aerossol, que, borrifado dentro da garrafa, irá substituir o oxigênio que ocupa o espaço livre por nitrogênio. Poucas lojas especializadas o têm à venda. Mas esses dispositivos resolvem totalmente o problema? Os resultados não são perfeitos mas com certeza, podem ajudar.
As meias-garrafas podem ser uma boa saída. Até mesmo quando vazias, já que podem ser usadas para guardar a bebida que sobrou em garrafas regulares, sem que sobre muito espaço para o ar. É só enchê-las e arrolhá-las com firmeza. No entanto, muitos enófilos dizem e defendem que o que deve ser feito é não deixar sobras; se isso ocorrer, o melhor é perder o resto e ficar com a memória do último gole. O que não se pode é radicalizar ou generalizar. Aqui, vale a máxima do jornalista esportivo Neném Prancha: “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.
Gerson Lopes é médico mineiro com atuação em sexologia e acredita que a vida é o melhor afrodisíaco. Criador do site Vinho e Sexualidade
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