Conheço Celita há mais de 10 anos e já provei muitas das delícias que ela prepara, na casa de grandes amigos meus em Belo Horizonte. Mostrar seu trabalho é uma forma de valorizar sua história e incentivar as pessoas a cozinhar. Celita escolheu um prato que sempre fez parte da sua vida, mas decidiu apresentá-lo de uma forma diferente. Acompanhei todos os passos da Trouxinha de Taioba com Galinhada e Creme de Pequi (além de comer o prato, naturalmente) e compartilho com vocês.
Combinação de cores e sabores bem brasileiros
A força do conhecimento
Nascida em Araçuaí, no vale do Jequitinhonha, norte de Minas, Celita penou para conseguir terminar o ensino médio. “A gente morava a uma hora da escola e quando a condução quebrava, eram de 3 a 4 horas de caminhada para voltar para casa”, lembra.
Em casa, ela ajudava a fazer de tudo, desde trabalhar na roça até cozinhar. Como gostava de inventar pratos, resolveu colocar vinagre numa sopa de macarrão. O resultado não agradou o pai, que reagiu com uma surra danada. “Peguei tanto trauma de cozinha e de vinagre, que resolvi procurar trabalho como babá”, contou ela rindo.
Depois de alguns trabalhando como babá, Celita acabou indo trabalhar em uma casa de família em Belo Horizonte, onde está há 13 anos. Foi chegando de mansinho na cozinha, preparando o trivial, mas logo conquistou o posto de cozinheira. Como a família gosta de comer bem e de receber, Celita foi vivenciando uma outra realidade.
Com este prato, ela tirou nota 10 na matéria de cozinha brasileira da Estácio de Sá
Alguns dos jantares servidos na casa eram preparados por chefs de cozinha e ela ia aprendendo o que podia. Para se aperfeiçoar ainda mais, fez o curso superior de gastronomia na Universidade Estácio de Sá.
Hoje, é Celita quem prepara os almoços e jantares da família e quando tem convidados ela capricha ainda mais no cardápio, com pratos nada triviais, como nesta receita tradicional transformada em prato de chef.
Trouxinha de Taioba com Galinhada e Creme de Pequi
Rende 8 porções
Ingredientes
- 1 frango caipira cortado pelas juntas
- 1 cebola picada
- 2 tomates sem pele e sem sementes picados
- salsinha e cebolinha
- 2 colheres (chá) de colorau
- 3 colheres (sopa) de banha de porco ou óleo
- arroz branco cozido (menos de 1 xícara)
- 8 a 10 pequis (frescos ou congelados)
- folhas de taioba
- 8 cebolinhas grandes
- sal e pimenta-do-reino a gosto
O arroz cozido vai ser acrescentado ao frango desfiado
1. Tempere o frango com sal e pimenta-do-reino e deixe tomar gosto. Em uma panela, coloque a banha de porco e o óleo, junte os pedaços de frango e deixe dourar. Junte a cebola, o tomate, o colorau a salsinha e cebolinha. Acrescente cerca de 2 e 1/2 litros de água quente (faça isso aos poucos, porque a ideia é que a carne fique cozida e sobre um pouco de caldo) e deixe cozinhar por mais ou menos 1h30.
2. Retire os pedaços de frango, coe o caldo e reserve. Espere esfriar a carne e desfie. Em seguida, misture a carne desfiada com o arroz e reserve.
O pequi deve ser raspado com cuidado, depois de cozido
3. Cozinhe o pequi em água por cerca de 1 hora ou até soltar a massa (é importante cozinhar bem para tirar o amargor). Em seguida, raspe a massa e bata no liquidificador com um pouco caldo do frango reservado (o restante vai ser usado para aquecer as trouxinhas).
As trouxinhas são amarradas com a cebolinha escaldada, num processo bem delicado
4. Para fazer as trouxinhas, escalde a taioba (escalde algumas folhas a mais, porque você pode precisar fazer alguns “remendos” na trouxinha) e a cebolinha. Coloque em cada folha de taioba (elimine as partes mais duras das folhas com uma tesoura) um pouco da galinhada e amarre delicadamente com a cebolinha.
Aqueça as trouxinhas no caldo reservado na hora de servir
5. Na hora de servir, aqueça as trouxinhas no caldo restante. Distribua o creme de pequi nos pratos, coloque uma trouxinha em cada prato (use uma espátula para não romper) e sirva em seguida.
Já tinha escutado sobre a Celita, mas ler aqui, deixa a história dela muito mais real e um grande incentivo ao estudo e conhecimento. Parabéns para a Celita e parabéns para seus empregadores, que a incentivaram a se superar!
É uma linda história mesmo Cris! Fiquei feliz em compartilhar com os leitores do Mesa Completa…