Em encontros sobre vinhos, quase sempre deparo com essa pergunta e sempre respondo que não dá para comparar, já que os vinhos têm estilos muito distintos. Digo que devemos conhecer bem cada uma dessas regiões, assim como os seus vinhos, para poder melhor desfrutá-los e avaliar qual estilo é capaz de nos seduzir mais. Confesso que há momentos em que prefiro Borgonha e em outros, Bordeaux, e fico muito feliz por manter essa postura, comportando-me como vira-folha ou vira-casaca.
Dúvidas sobre preferência existem até mesmo dentro de cada uma dessas regiões. Por exemplo, na Borgonha, Côte de Nuits ou Côte de Beaune? A primeira produz tintos profundos e elegantes com Pinot Noir e a segunda abriga os mais famosos vinhedos da branca Chardonnay, incluindo Corton-Charlemagne e Montrachet. Acredito que em termos de preferência entre as duas Côtes, mesmo correndo o risco de generalização, a maioria ficaria com os tintos da Côte de Nuits e os brancos da Côte de Beaune.
Para complicar ainda mais, podemos preferir dentro de Côte de Nuits ou Côte de Beaune vinhos de uma determinada sub-região. Que tal um potente e longevo tinto de Gevrey-Chambertin (que tem oito vinhedos Grands Crus, cada um com suas particularidades)? Ou podemos preferir os tintos de Morey-Saint Denis, aromáticos, frescos e bem balanceados. Particularmente, sempre me sinto seduzido pelos vinhos mais finos, elegantes e femininos de Chambolle-Musigny. Vougeot, além de magníficos tintos – em mãos de bons produtores, o que na Borgonha é fundamental –, produz alguns brancos muito interessantes (apesar de desconhecidos), macios, tanto quanto encorpados. De um vinhedo de Vosne-Romanée vem o mítico Romanée-Conti, desejado e amado por todos. Alguns enófilos preferem os robustos tintos Nuits-Saint-Georges. Em suma, temos na Côte de Nuits vinhos para diferentes paladares.
A Côte de Beaune, ao sul da Borgonha, é a terra de brancos, mas tem também excelentes tintos e terroirs que originam vinhos muito distintos, de acordo com a sub-região. Quem degustou um dia um grande Corton-Charlemagne não se esquece jamais. Outro grande ícone da Côte de Beaune é o Montrachet (mais famoso que o anterior), que pertence em parte à comuna Chassagne-Montrachet e parte à Puligny-Montrachet. Quando atende pela sigla DRC (Domaine Romanée Conti) é magia pura. Existem outros grandes da constelação Montrachet (Chevalier-Montrachet, Bienvenues-Bâtard-Montrachet, Bâtard-Montrachet e Criots-Bâtard-Montrachet). Pommard vem com alguns tintos intensos e robustos e Volnay com tintos suaves e redondos. Ia me esquecendo dos brancos minerais e deliciosos, os Chablis, e os sedutores Meursault.
Em Bordeaux, a diversidade de terroirs existe como na Borgonha, porém seus tintos são o resultado de uma combinação das uvas Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, conhecida como corte bordalês. Entre os brancos, em proporções mais ou menos iguais, combinam Sauvignon Blanc (que confere o frescor) e Sémillon (dá estrutura e longevidade). Alguns são capazes de competir com os grandes Montrachets (Borgonha). Médoc, a mais famosa das regiões, também tem sub-regiões: Margaux e seus vinhos aveludados e elegantes; Saint-Julien e seus tintos untuosos e com mais fruta madura; Pauillac com ricos sabores de groselhas negras, toques de cedro, tabaco, e mais estrutura de boca que os anteriores; e Saint-Estéphe, com os mais robustos dentre eles. Do lado direito do Gironde, – St. Emilion e Pomerol – os vinhos seduzem pela cremosidade e intenso sabor de ameixa.
Em Sauternes, berço dos deliciosos vinhos de sobremesa, a Sémillon é a artista principal, podendo ter como coadjuvante a Sauvignon Blanc e a Muscadelle. Aqui se produz um dos mais famosos vinhos doces do planeta, o Château d’Yquem, com produção tão baixa que, dizem, ser necessário um pé de uva para um copo de vinho.
Agora que você conhece o básico das duas regiões na teoria, vá logo para a prática e veja qual é o seu preferido. Santé!
Gerson Lopes é médico mineiro com atuação em sexologia e acredita que a vida é o melhor afrodisíaco. Criador do site Vinho e Sexualidade
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