Mesa Completa - Por Solange Souza

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    ExperiênciasVinhos e etc • 4 de julho de 2017

    O sobreiro e as rolhas

    Abrir uma garrafa de vinho não será a mesma coisa depois de acompanhar a produção de rolhas, em Portugal, do campo às fábricas

    A convite da da Apcor – Associação Portuguesa da Cortiça –, fui conhecer a produção desse item fundamental para o vinho e de uso tão amplo em vários outros segmentos. Tudo começa com o sobreiro, árvore da família do carvalho, símbolo nacional de Portugal, maior produtor mundial de cortiça.

    Nossa viagem teve início em Lisboa, quando a simpática guia portuguesa, Mariana Serra, da Apcor, nos pegou no hotel e nos levou até um montado no Coruche, região do Ribatejo, justamente para nos mostrar os sobreiros (quem viaja pelo Ribatejo ou pelo Alentejo pode ver muitas dessas árvores, que compõem a bela paisagem da região). No caminho, Mariana foi contando o significado de um montado: “São florestas geridas pelo homem e que não têm apenas sobreiros. Nesses locais, podem ser encontrados pinheiros, eucaliptos e gado. São áreas onde faz calor, há pouca umidade, com solos muito pobres e secos”. Acompanhamos o trabalho de extração da cortiça, feito sempre em duplas, e descobrimos que se trata da atividade mais bem remunerada no setor rural (entre 80 a 100 euros por dia), feita somente nos meses de junho e julho.

    Símbolo nacional de Portugal, o sobreiro pode atingir entre 200 e 250 anos de idade

    O primeiro descortiçamento ocorre quando a árvore tem 25 anos (ou 70 cm de perímetro), mas é somente na terceira extração, quando o sobreiro tem cerca de 43 anos de idade, que a cortiça adquire a espessura ideal para a produção de rolhas naturais, o nível mais alto da categoria, que chegam a custar até 2 euros a unidade (as mais simples custam em torno de 2 centavos de euro). É preciso um intervalo de nove anos entre uma extração e outra para que o sobreiro se regenere completamente. Na árvore, é marcado um número que indica o ano em que foi retirada a cortiça (2017).

    Montado3

    Há um ditado português que diz que a cortiça é como o porco: tudo pode ser aproveitado. Ainda bem, porque apenas 30% pode ser utilizado para a produção de rolhas (que corresponde a mais de 65% do valor dessa indústria)! O restante é usado para piso, decoração, isolamento, indústria de calçados e de automóveis. Até o pó da cortiça pode ser queimado para gerar energia. Na Amorim, por exemplo, maior produtora mundial de cortiça, mais da metade da energia usada vem da queima da cortiça, como nos contou Joana Mesquita, responsável pelas áreas de Relações Públicas e comunicação corporativa do grupo Amorim na área de rolhas. Foi ela quem nos conduziu pela fábrica, mostrando as placas de cortiça, que chegam a ficar no pátio por até um ano, o processo de fabricação de rolhas e de discos de cortiça. Na foto abaixo, rolhas técnicas da Amorim (o A dentro do círculo indica a procedência).

    Amorim

    As rolhas são classificadas da seguinte forma:

    • naturais – tiradas diretamente de pranchas de cortiça previamente selecionadas (as melhores); são usadas para vinhos de guarda
    • técnicas – feitas com aglomerados de cortiça muito densos, que podem ter discos de cortiça natural em uma ou nas duas extremidades; indicadas para vinhos que vão ser bebidos logo
    • de champanhe e espumantes – são rolhas técnicas, porque precisam ter maior granulação, têm diâmetro maior e trazem de dois a três discos de cortiça na parte inferior
    • capsuladas – feitas com cortiça natural, coladas a uma cápsula de madeira, metal ou vidro; são usadas para vinhos do Porto e alguns destilados

    Do Ribatejo seguimos para a cidade do Porto, a partir da qual visitamos a Relvas, especializada em rolhas para champanhes e espumantes, e a Lafitte, onde acompanhamos a produção de rolhas naturais (foto abaixo).

    Lafitte

    Foi uma viagem incrível, onde foram abertas algumas garrafas de ótimos vinhos para acompanhar a gastronomia local, tanto no estilo tradicional do restaurante Sabores de Coruche, quanto na linha mais moderna do TerraMãe . O jantar de encerramento foi no Vinum, da Graham’s, onde são envelhecidos os vinhos do Porto da marca, em Vila Nova de Gaia, com uma vista espetacular da cidade do Porto. Tivemos uma noite super agradável na companhia do presidente da Apcor, João Rui Ferreira, e de José Pinto, diretor geral da Lafitte, que nos acompanhou no jantar, além da nossa divertida guia, Mariana. Como se diz em Portugal, “muito giro” ou “giríssimo” (super legal!).

     


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